PEDRAS, PAISAGEM E PAISAGISMO
ㅤㅤO uso de pedras ou rochas para alterar ou embelezar espaços abertos e ambientes humanos remonta aos primórdios da civilização como a conhecemos. Talvez uma das primeiras e mais impressionantes manifestações do uso de rochas e pedras como elemento paisagístico de grande escala seja o Stonehenge de Wiltshire na Grã-Bretanha de 1.400 a.C., um conjunto de círculos concêntricos de monólitos rochosos em meio a uma verdejante campina, um antigo centro ritual que faz parte da paisagem inglesa até os dia atuais. Aliás, esta é uma característica notável das pedras: – durabilidade. Característica que pode ser verificada em tantos outros exemplos como a Via Ápia, da Roma antiga, uma das primeiras estradas pavimentadas com pedras, e as Pirâmides dos faraós egípcios; obras que marcam a paisagem e que testemunham o modo inventivo do homem no uso dos recursos naturais.
ㅤㅤPartindo para uma escala mais intimista verifica-se o uso das pedras na construção de muretas em jardins ingleses, no pavimento de praças italianas, na tradição do mosaico português e em outras tantas aplicações e usos ao redor do mundo; contudo as pedras não são utilizadas exclusivamente como material construtivo, mas também têm sua beleza natural explorada em jardins e como peça de decoração. No extremo oriente, Japão e China, são comuns jardins compostos exclusivamente com pedras e rochas dispostas cuidadosamente sobre um “mar” de pedrisco que é cuidadosamente arrumado para produzir os mais belos desenhos, também são freqüentes arranjos com grandes pedras – que simbolizam a eternidade – , em meio aos jardins, dispostas sempre em número impar 3,5,7… segundo a crença zen-budista números da harmonia e felicidade.


Copacabana, Rio de janeiro
ㅤㅤNo ocidente adota-se uma composição mais livre das pedras em paisagismo a criação de mosaicos em pisos e paredes é evidente, assim como o uso de pedras roladas soltas em meio a canteiros de plantas criando belos contrastes. Exemplo clássico de mosaico de piso pode ser apreciado nas calçadas de Copacabana e do Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro – RJ, obras primas onde o mestre Burle Marx usou de a dureza do mosaico português para criar ondulantes e sensuais grafismos no piso.
ㅤㅤHoje, pode-se afirmar que o uso de pedras em paisagismo e decoração está em alta, o mosaico português e a pedra filetada “canjiquinha” – ícones do modernismo – estão de volta com força; pedra são tomé e goiás seguem adornando áreas de piscina, granitos flameados e miracema marcam escadas e passeios externos; a beleza atemporal dos granitos e mármores trazem sofisticação e glamour aos lares; seixos e pedras soltas co-protagonizam com exóticas plantas belos jardins.
ㅤㅤVerifica-se assim o potencial que as pedras têm e sempre tiveram como aliadas do homem na busca pelo belo e durável.
Legados de Pedra e Água: A Fusão de Paisagens Greco-Romanas e Orientais Moldando o Futuro Urbano
ㅤㅤVoltando-se aos antigos impérios, Grego e Romano, percebe-se o quão grandes podiam ser as cidades antigas e que estes povos também buscavam ideais estéticos que valorizassem as diferentes perspectivas de seus mundos. Os Gregos eram notáveis arquitetos e estetas, para eles a simetria e proporção deveriam estar presentes em todas as construções e espaços públicos, surgiam os teatros de arena, as ágoras (praças) e jardins públicos com imponentes ciprestes e tamareiras. Os Romanos, como sabido, se apoderaram de boa parte do conhecimento tecnológico dos Gregos e fizeram alguns aperfeiçoamentos: – com arcos transpunham rios e transportavam água para as cidades distantes por meio de aquedutos, com água corrente e abundante os jardins dos palácios podiam contar com variadas espécies de todos os pontos do império e mais além. Mesmo as casas romanas possuíam jardins elaborados ao redor do “impluvium” um tanque central em um pátio que colhia e armazenava água da chuva. Atualmente são vistas heranças da estética paisagística greco-romana nas praças públicas, nas composições simétricas e nos jardins de inverno que adornam muitas casas e edifícios comerciais, descendentes diretos do “impluvium”, aliás, a preocupação com a coleta e uso da água da chuva está voltando com força, mais um legado quase esquecido no passado que ajudará muito o futuro.

ㅤㅤViajando um pouco para o extremo oriente ao Japão e China, se tem uma percepção diferente na forma como estas duas culturas milenares encaravam a paisagem, pois segundo as filosofias do Budismo e do Xintoísmo, homem e natureza fazem parte um do outro e por esta razão os jardins orientais sempre buscam uma estética naturalista. Nas composições paisagísticas orientais as linhas são suaves e o artificial deve ser evitado ao máximo.
ㅤㅤNo momento presente as composições paisagísticas de inspiração oriental e naturalista estão em alta e os elementos e materiais naturais estão sendo muito usados e reinterpretados.
ㅤㅤDo ponto de vista estético atual há uma classificação não muito rígida de estilos em composições paisagísticas. Sendo os principais estilos: clássico, inglês, árido, rupestre, oriental, tropical e contemporâneo.
ㅤㅤEvoluindo através do tempo e da história dos povos e de suas culturas as estéticas paisagísticas produziram alguns estilos marcantes e atemporais que devem ser empregados de acordo com a demanda estética da arquitetura e contexto sócio ambiental do momento. Não existe uma regra rígida e inflexível, mas caminhos históricos a descobrir e conhecimento a ser usado com bom senso em busca do belo e do novo.
